“Cabe lembrar que as reivindicações trabalhistas, quando foram atendidas, já tinham uma história de muitas lutas nesses países: são as conquistas dos trabalhadores, e não a política populista, o que os governantes atuais da América Latina estão destruindo. Preocupados com a ’modernização’, que significa possibilidade de competição no jogo da economia globalizada, relegam os problemas sociais a um plano secundário. [...] Neste contexto, alguns opositores do ’Neoliberalismo’ se tornam nostálgicos; incapazes de acreditar em novas formas de democracia e justiça social, lamentam o fim dos regimes ’populistas’. A estes, cabe indagar: não haverá melhor caminho para a democracia latino-americana do que a tentativa de preservar a ’cidadania controlada’ introduzida nesses regimes? A resposta talvez esteja no desafio de ’invenção da democracia’ [que] pode constituir um exercício mais estimulante do que viver a reboque daquele passado, que, junto com a legislação social, nos legou uma cultura política eficiente no que se refere a novas formas de controle social, mas ineficiente em relação à construção de uma democracia plena e justa.”

(CAPELATO, Maria Helena Rolim. Populismo latino-americano em discussão. In FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 165.)