Glossário

Darwinismo – é o conjunto de teorias sobre a origem e a evolução dos seres vivos sintetizadas na década de 1940 e que derivaram dos trabalhos dos britânicos Alfred Russel Wallace e Charles Darwin, em especial do livro “A origem das espécies”, publicado por Darwin em 1859. Seus principais pontos são a ideia da seleção natural, ou seja, a produção aleatória de variabilidade genética numa população aliada à sobrevivência diferencial de certos indivíduos portadores de variações (mutações) favoráveis; o gradualismo na maior parte dessas mudanças; e a ideia de que todos os organismos da Terra descendem de um ancestral comum.

Criacionismo – movimento que defende que a narrativa da criação do livro bíblico do Gênese reflete exatamente os eventos que levaram ao surgimento da Terra e do Universo. Rejeita a escala de tempo cosmológica e geológica, argumentando que o Deus bíblico criou o cosmo em poucos dias e que a Terra não tem mais que poucos milhares de anos de idade. Explica as extinções pelo dilúvio da Bíblia.

Design inteligente – afirma ser uma corrente científica, que não segue determinação religiosa. Argumenta que grande parte das estruturas biológicas são complexas demais para terem surgido de acordo com o modelo darwinista de acúmulo gradual de modificações aleatórias. Ao criticar o que considera “buracos” na teoria evolutiva, como o súbito aparecimento de formas de vida espantosamente variadas no Período Cambriano, vê a necessidade de um “designer”, um projetista inteligente. Esse ser não é identificado pela corrente.

(Folha de S. Paulo, 30 jan. 2005.)

A polêmica na sala de aula

No dia primeiro de agosto deste ano, o presidente americano George W. Bush anunciou no Texas que todas as escolas públicas do país deveriam ensinar a teoria do Design Inteligente (DI) nas aulas de ciências, paralelamente ao evolucionismo de Darwin, apresentado ao mundo em 1859, na obra “A Origem das Espécies”. Sem revelar suas crenças sobre as origens da vida, mas assumidamente cristão, Bush acrescentou que todos devem ser expostos a diferentes ideias, mas acabou atiçando a fogueira sobre a inclusão do criacionismo no currículo escolar americano. Sabe-se que conservadores cristãos representam grande parte dos eleitores de Bush e que eles têm forçado cada vez mais o ensino do Design Inteligente nas salas de aula do país.

Uma das razões deste interesse é pelo fato de a nova teoria deixar em aberto a questão de quem seria a entidade superior que criou todas as espécies da Terra – para os defensores enraizados nas escolas americanas, tal entidade seria, implicitamente, o Deus cristão. O problema, dizem os críticos, é que o foco na sala de aula pode passar das ciências para a religião.

Quem sustenta essa ideia tem encontrado resistência de cientistas, para quem o DI não passa de uma forma de colocar religião no caminho da ciência. “Não sei qual a razão pela qual o presidente Bush está endossando esta ideia”, diz Casey Luskin, co-presidente da Idea, uma organização de San Diego, na Califórnia, que estimula clubes de estudos de ciências nas escolas e universidades. “Defendemos o DI como ciência e não como ponto de vista religioso. Este é um assunto que deve ser debatido e explorado por cientistas, e não por conselhos escolares”, continua. Luskin acrescenta que o DI não deve ser um assunto obrigatório nas escolas, contudo diz que não vê problema algum em professores abordarem a questão. “A única coisa que não queríamos era que esta fosse uma discussão política. Nossos críticos estão nos confundindo com defensores religiosos, mas somos cientistas”, lamenta.

Ainda assim, algumas escolas já adotaram a matéria em seus currículos. O pontapé inicial foi dado em outubro de 2004 pelo conselho do distrito escolar de Dover, na Pensilvânia. [...] No site de uma escola desse distrito lê-se que “as crianças terão conhecimento sobre as falhas e os problemas da teoria de Darwin e de outras teorias evolucionistas, incluindo, não de forma exclusiva, o Design Inteligente. A teoria de Darwin continua no papel, ainda está em teste enquanto novas evidências são descobertas. Uma teoria não é um fato”. Além disso, um livro intitulado “De Pandas e Pessoas” está disponível aos alunos, para que possam se familiarizar com o DI. Segundo a instituição de ensino, a intenção é que haja discussão sobre a origem da vida entre estudantes e seus familiares.

Além da Pensilvânia, tentativas de incluir a visão bíblica nas aulas de ciências têm começado a pipocar em outros estados. Em Grantsburg, Wisconsin, o currículo de ciências passou a acomodar vários modelos e teorias de evolução. Em Cobb, uma cidadezinha da Georgia, uma escola passou a obrigar livros de ciência a serem distribuídos com um adesivo na capa dizendo que os conceitos formulados por Darwin não passam de uma “teoria”. Esta ideia é contestada por Charles Haynes, diretor de educação do First Amenent [...]. “Para muitos, a palavra teoria pode não soar como séria ou com alguma substância. Mas ela é muito usada no mundo das ciências”, diz ele. “A discussão que envolve o DI, na verdade, gira em torno de uma questão político-religiosa em todas as comunidades envolvidas”, analisa. Ele afirma que, no fundo, as pessoas não fazem ideia das diferenças entre ciência e educação científica.

(Adaptado de Galileu, out. 2005)

O “Glossário” publicado pela Folha de S. Paulo apresenta três conceitos fundamentais para a compreensão do texto “A polêmica na sala de aula”: darwinismo, criacionismo e design inteligente. Ao expor esses conceitos, o jornalista: