Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
(BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. São Paulo: Ediouro, 2002.)
Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.
Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.
(PAES, José Paulo. Melhores poemas. São Paulo: Global, 1998.)
Sobre os poemas acima, é correto afirmar:
a) Como são declarações de amor, os poemas acima fogem às regras da elaboração poética, sendo impossível caracterizar as posturas estéticas que eles representam.
b) O poema de José Paulo Paes representa o tom geral de sua obra poética, fortemente marcada pelo discurso amoroso, ao contrário da obra poética de Manuel Bandeira, em que esse tema praticamente não aparece.
c) A metalinguagem não é um recurso presente nesses poemas.
d) A rima entre "pão" e "cão", em "Madrigal", constrói-se sobre uma simplicidade vocabular que confere ao poema um registro coloquial; em "Neologismo", esse registro é proporcionado, por exemplo, pela leveza bem-humorada do verso "Teadoro, Teodora".
e) A tradução de "ternura mais funda" em um neologismo como "teadorar", no poema de Manuel Bandeira, e a comparação do amor com elementos prosaicos como "a água e o pão", no poema de José Paulo Paes, exemplificam a reação moderna à expressão cerimoniosa do sentimento amoroso.