USP 2008 Português - Questões
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Jornalistas não deveriam fazer previsões, mas as fazem o tempo todo. Raramente se dão ao trabalho de prestar contas quando erram. Quando o fazem não é decerto com a ênfase e o destaque conferidos às poucas previsões que acertam.
(Marcelo Leite, Folha de S. Paulo.)
a) Reescreva o trecho “Jornalistas não deveriam fazer previsões, mas as fazem o tempo todo”, iniciando-o com ‘Embora os jornalistas...’’
b) No trecho “Quando o fazem não é decerto com a ênfase (...)”, a que ideia se refere o termo grifado?
Devemos misturar e alternar a solidão e a comunicação. Aquela nos incutirá o desejo do convívio social, esta, o desejo de nós mesmos; e uma será o remédio da outra: a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nosso tédio à solidão.
(Sêneca, Sobre a tranquilidade da alma. Trad. de J.R. Seabra Filho.)
a) Segundo Sêneca, a solidão e a comunicação devem ser vistas como complementares porque ambas satisfazem um mesmo desejo nosso.É correta essa interpretação do texto acima? Justifique sua resposta.
b) “(...) a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nosso tédio à solidão.”Sem prejuízo para o sentido original, reescreva o trecho acima, iniciando-o com “Nossa aversão à multidão...”
Em janeiro de 1935, um grupo de turistas pernambucanos passeava de carro quando deu de cara com Lampião e seu bando. Revirando a bagagem do grupo, um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao chefe, que perguntou a quem ela pertencia. Apavorado, um deles levantou o dedo. “Quero que o senhor tire o meu retrato", disparou o “rei do cangaço", pondo-se a posar. O homem, esforçando-se, bateu uma chapa, mas avisou: “Capitão, esta posição não está boa". Dando um salto e caindo de pé, Lampião perguntou: “E esta? Está melhor?" Outra foto foi feita. Quando libertava os turistas, após pilhá-los, o “fotógrafo" de ocasião indagou-lhe como podia enviar as imagens. “Não é preciso. Mande publicar nos jornais", disse o cangaceiro.
(Carlos Haag, Pesquisa FAPESP.)
a) No texto, as aspas em “rei do cangaço” e “fotógrafo" foram empregadas pelo mesmo motivo? Justifique sua resposta.
b) Os trechos abaixo encontram-se em discurso indireto e discurso direto, respectivamente. Transforme em discurso direto o primeiro trecho e, em discurso indireto, o segundo.
(...) um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao chefe, que perguntou a quem ela pertencia.
“Quero que o senhor tire o meu retrato", disparou o “rei do cangaço" (...).
O autoclismo da retrete
RIO DE JANEIRO - Em 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa. Logo no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de língua. Houve um problema no banheiro da redação e eu disse à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada." Isabel franziu a testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo que chamasse a Banda do Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular de marchas e dobrados na redação. Por sorte, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tempo e já escolado nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel, chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete." E só então o belo rosto de Isabel se iluminou.
(Ruy Castro, Folha de S. Paulo.)
a) Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que no Rio de Janeiro se entende por “bombeiro” e, em Lisboa, por “canalizador”. Isto permitiria afirmar que, em algum desses lugares, ocorre um uso equivocado da língua portuguesa? Justifique sua resposta.
b) Uma reforma que viesse a uniformizar a ortografia da língua portuguesa em todos os países que a utilizam evitaria o problema de comunicação ocorrido entre o jornalista e a secretária. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do contrário”, como no famoso exemplo de uma velha já decrépita que se cobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos. Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso, que nasce da ruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento de superioridade. A “percepção do contrário” pode, porém, transformar-se num “sentimento do contrário” - quando aquele que ri procura entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de reconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha da anedota não mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa que também poderia estar no lugar da velha - e seu riso se mistura com a compreensão piedosa e se transforma num sorriso. Para passar da atitude cômica para a atitude humorística, é preciso renunciar ao distanciamento e ao sentimento de superioridade.
(Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso.)
a) Considerando o que o texto conceitua, explique brevemente qual a diferença essencial entre a “percepção do contrário” e o “sentimento do contrário”.
b) “Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso (...)".Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, reescreva-o, substituindo se perceber e produz-se por formas verbais cujo sujeito seja nós e é o oposto por não corresponde. Faça as adaptações necessárias.
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