UNICAMP 2019 História - Questões
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Havia em Alexandria uma filósofa chamada Hipátia que foi admitida na escola de Platão, demonstrando competência para ensinar as ciências a todos os que o desejassem. Hipátia interrogava: “Por que as estrelas não caem do céu?” E respondia: “Porque seguem a rota mais perfeita, que é o círculo do céu em torno da Terra, que, por sua vez, é centro do cosmos.” Acreditando nesta tradição e movida pela curiosidade, ela instigava: “Se você não questiona aquilo em que acredita, não pode acreditar.” Além disso, acrescentava: “Eu acredito na filosofia e é preciso nos livrarmos de todas as ideias preconcebidas de qualquer natureza.” Na história da filosofia, Hipátia é considerada uma expoente do neoplatonismo. A oposição entre o neoplatonismo e o cristianismo teria marcado o tempo em que ela viveu. Para o filósofo Pierre Hadot, o neoplatonismo foi um foco de resistência ao cristianismo. Essa resistência continuou até 529, quando o imperador Justiniano proibiu os pagãos de ensinar, fechou as escolas filosóficas de Atenas e passou a perseguir filósofos em Alexandria. Nesse contexto, a matemática Hipátia foi assassinada em 415, em Alexandria, por cristãos fanáticos.
(Adaptado de Salma Tannus Muchail, Notícias de Hipátia. Labrys, estudos feministas, v. 23, jan./jun. 2013. Disponível em https://www.labrys.net.br/ labrys23/ filosofia/salma.htm. Acessado em 10/07/2017.)
A partir do texto acima e de seus conhecimentos históricos e filosóficos,
a) identifique dois princípios filosóficos defendidos por Hipátia;
b) aponte e explique uma motivação do imperador Justiniano para perseguir correntes de pensamento não cristãs.
Sobre o diário do indígena Chimalpahin, o historiador Serge Gruzinski escreveu:
Toda a obra do cronista transborda de anotações que desenham um imaginário planetário, cujas referências nos parecem muitas vezes inesperadas. Dois meses depois de ter evocado o assassinato do rei de França, em 15 de novembro de 1610, Chimalpahin dirige seu olhar para o Japão e anota: “Dom Rodrigo de Vivero, vindo do Japão, perto da China, fez sua entrada na Cidade do México. Fez-se amigo do imperador japonês e este lhe emprestou a fortuna que Rodrigo trouxe à Cidade do México; ele trouxe, além disso, alguns japoneses com ele. Todos estavam vestidos como se vestiam lá, com uma espécie de colete e um cinto em torno da cintura, onde levavam sua katana de aço, uma espécie de espada. Não se mostravam tímidos, não eram pessoas calmas ou humildes, tinham, ao contrário, o aspecto de águias ferozes.”
(Adaptado de Serge Gruzinski, As quatro partes do mundo: história de uma mundialização. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Edusp, 2014, p. 36.)
Considerando o estudo histórico de Gruzinski e seus conhecimentos,
a) identifique, a partir do texto, dois aspectos que caracterizam os contatos culturais;
b) explique a importância do diário de Chimalpahin para a compreensão do processo de colonização da América.
O período de 1840 a 1890 é o do triunfo da ideologia do progresso, simultaneamente ao grande boom econômico e industrial do Ocidente.
(Adaptado de Jacques Le Goff, História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1990, p. 204-245.)
Com base no texto e em seus conhecimentos históricos,
a) apresente duas características importantes do boom econômico e industrial do Ocidente entre 1840 e 1890;
b) explique o ideário do progresso e o relacione com a Primeira Guerra Mundial.
Desde a publicação do livro Casa-grande e senzala, em 1933, até o início da década de 1960, Gilberto Freyre gozou de um prestígio que poucos autores alcançaram em toda a história das letras brasileiras. A “questão racial” se constituiu em um dos capítulos essenciais da intervenção do autor, contribuindo na maneira como o país pensou a sua diversidade, que o sociólogo chamou de “democracia étnica e social”.
(Adaptado de Alberto Luiz Schneider, Iberismo e luso-tropicalismo na obra de Gilberto Freyre. Revista de História da historiografia, v.1, n.1, dez. 2012, p. 75-93.)
a) Identifique o pressuposto da tese da democracia racial e explique por que ela tem sido questionada no Brasil atual.
b) Considerando o contexto internacional entre 1960 e 1990, identifique e descreva um movimento social cujas reivindicações políticas centraram-se em questões raciais.
O cineasta Orlando Senna conta a experiência de ver a primeira exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha em 1964: “era uma plateia pequena e nós vimos pela primeira vez, pronto, o Deus e o Diabo na Terra do Sol, e foi aquele impacto pra vida inteira. Eu me lembro que quando o filme terminou de ser exibido, foi um silêncio enorme. Teve um silêncio, e depois de um tempo enorme, toda essa plateia chorando.”
(Adaptado do filme O Guarani. Direção de Cláudio Marques e Marília Hughes. Salvador, 2008.)
A partir do relato acima e de seus conhecimentos históricos, responda às questões.
a) O filme de Glauber Rocha trata da figura do sertanejo, privilegiando o messianismo. Cite e explique dois elementos fundamentais do messianismo no Nordeste brasileiro entre as décadas de 1890 e 1930.
b) O depoimento registra o impacto produzido pelo filme em sua primeira exibição, no dia 17 de março de 1964. Explique o significado cultural e político do Cinema Novo no Brasil dos anos 60.
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