UNICAMP 2006 Português - Questões

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- Vovô, eu quero ver um cometa!

Ele me levava até a janela. E me fazia voltar os olhos para o alto, onde o sol reinava sobre a Saracena.

- Não há nenhum visível no momento. Mas você há de ver um deles, o mais conhecido, que, muito tempo atrás, passou no céu da Itália. Muito tempo atrás...atrás de onde? Atrás de minha memória daquele tempo.

E vovô Leone continuava:

- Um dia, você há de estar mocinha, e eu já estarei morando junto das estrelas. E você há de ver a volta do grande cometa, lá pelo ano de 2010...

Eu me agarrava à cauda daquele tempo que meu avô astrônomo me mostrava com os olhos do futuro e saía de sua casa. Na rua, com a cabeça nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. Só baixavam à terra quando chegava à casa de vovô Vincenzo, o camponês.

(Ilke Brunhilde Laurito, A menina que fez a América. São Paulo: FTD, 1999, p. 16.)

No trecho "Muito tempo atrás...atrás de onde? Atrás de minha memória daquele tempo."

  1. a) Identifique os sentidos de ’atrás’ em cada uma das três ocorrências.

  2. b) Compare "Atrás de minha memória daquele tempo" com "Atrás do jardim da minha casa". Explique os sentidos de ’atrás’ em cada uma das frases.

- Vovô, eu quero ver um cometa!

Ele me levava até a janela. E me fazia voltar os olhos para o alto, onde o sol reinava sobre a Saracena.

- Não há nenhum visível no momento. Mas você há de ver um deles, o mais conhecido, que, muito tempo atrás, passou no céu da Itália. Muito tempo atrás...atrás de onde? Atrás de minha memória daquele tempo.

E vovô Leone continuava:

- Um dia, você há de estar mocinha, e eu já estarei morando junto das estrelas. E você há de ver a volta do grande cometa, lá pelo ano de 2010...

Eu me agarrava à cauda daquele tempo que meu avô astrônomo me mostrava com os olhos do futuro e saía de sua casa. Na rua, com a cabeça nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. Só baixavam à terra quando chegava à casa de vovô Vincenzo, o camponês.

(Ilke Brunhilde Laurito, A menina que fez a América. São Paulo: FTD, 1999, p. 16.)

Releia o seguinte recorte: "Eu me agarrava à cauda daquele tempo que meu avô astrônomo me mostrava com os olhos do futuro e saía de sua casa. Na rua, com a cabeça nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. Só baixavam à terra quando chegava à casa de vovô Vincenzo, o camponês".

  1. a) Explique as relações que as expressões ’cauda daquele tempo’, ’olhos do futuro’ e ’cabeça nas nuvens’ estabelecem entre si.

  2. b) No mesmo trecho, explique a relação do aposto com o movimento dos olhos do personagem.


Na sua coluna diária do Jornal Folha de S. Paulo de 17 de agosto de 2005, José Simão escreve: "No Brasil nem a esquerda é direita!".

  1. a) Nessa afirmação, a polissemia da língua produz ironia. Em que palavras está ancorada essa ironia?

  2. b) Quais os sentidos de cada uma das palavras envolvidas na polissemia acima referida?

  3. c) Comparando a afirmação "No Brasil nem a esquerda é direita" com "No Brasil a esquerda não é direita", qual a diferença de sentido estabelecida pela substituição de ’nem’ por ’não’?

Na capa do caderno Aliás do jornal O Estado de S. Paulo de 10 de julho de 2005, encontramos o seguinte conjunto de afirmações que também fazem referência à crise política do Governo Lula:

Getúlio tanto sabia que preparou a carta-testamento. Juscelino sabia que seria absolvido pela História. Jânio sabia que sua renúncia embutia um projeto autoritário. Jango sabia o tamanho da conspiração ao seu redor. Médici ia ao futebol, mas sabia de tudo. Geisel sabia que Golbery entendera o projeto de abertura. (...)

  1. a) Em todas as afirmações, há um padrão que se repete. Qual é esse padrão e como ele estabelece a relação com a crise política do atual governo?

  2. b) Apresente, por meio de paráfrases, duas interpretações para a palavra ’tanto’ na frase "Getúlio tanto sabia que preparou a carta- testamento".

O soneto abaixo, de Machado de Assis, intitula-se Suave mari magno, expressão usada pelo poeta latino Lucrécio, que passou a ser empregada para definir o prazer experimentado por alguém quando se percebe livre dos perigos a que outros estão expostos:

Suave mari magno

Lembra-me que, em certo dia,

Na rua, ao sol de verão,

Envenenado morria

Um pobre cão.

Arfava, espumava e ria,

De um riso espúrio* e bufão,

Ventre e pernas sacudia

Na convulsão.

Nenhum, nenhum curioso

Passava, sem se deter,

Silencioso,

Junto ao cão que ia morrer,

Como se lhe desse gozo

Ver padecer.

*espúrio: não genuíno; ilegítimo, ilegal, falsificado. Em medicina, diz respeito a uma enfermidade falsa, não genuína, a que faltam os sintomas característicos.

  1. a) Que paradoxo o poema aponta nas reações do cão envenenado?

  2. b) Por que se pode afirmar que os passantes, diante dele, também agem de forma paradoxal?

  3. c) Em vista dessas reações paradoxais, justifique o título do poema.

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