UFPR 2015 Português - Questões
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Adoniran Barbosa é um ícone do samba paulista. Os temas de suas composições giravam em torno dos tipos humanos mais comuns e da realidade crua de uma metrópole que não para. Em suas músicas, usou sempre a linguagem popular paulistana para dar vida a suas personagens. “Saudosa Maloca” (1951) conta um fato, que é retratado a partir do ponto de vista de uma das personagens.
Saudosa Maloca*
Se o senhor não tá lembrado,
Dá licença de contá
Que aqui, onde agora está
Esse edifício arto,
Era uma casa veia,
Um palacete assobradado.
Foi aqui, seu moço,
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca. Mas um dia,
Nóis nem pode se alembrá,
Veio os home c’as ferramentas
O dono mandô derrubá.
Peguemos todas nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Apreciá a demolição.
Que tristeza que nóis sentia,
Cada tauba que caía
Doía no coração.
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
“Os home tá cá razão
Nóis arranja outro lugá.”
Só se conformemos
Quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertô."
E hoje nóis pega a paia* nas grama do jardim
E pra esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Que dim donde nóis passemos os dias feliz de nossa vida.
Saudosa maloca, maloca querida,
Que dim donde nóis passemos os dias feliz de nossa vida.
*Maloca: casa muito pobre e rústica; lar.
**Pegar uma palha ou puxar uma palha: dormir.
A partir da leitura dessa música, redija uma notícia de jornal que informe ao leitor os fatos narrados. Seu texto deve:
Ser introduzido por um título (manchete);
Apresentar a narrativa do ponto de vista do veículo de comunicação;
Ser fiel aos fatos apresentados na letra da música, podendo haver acréscimo de detalhes, inventados por você, que atualizem a narrativa e permitam adequá-la ao gênero “notícia de jornal”;
Apresentar a linguagem e a estrutura próprias do gênero;
Ter de 7 a 10 linhas.
Pacifismo ou é integral ou não é pacifismo
A Grande Guerra (1914-1918) tem diversos nomes, sobrenomes, alcunhas e pseudônimos. Um deles, o mais veraz - a Guerra Inacabada - é também o mais atual: os três grandes conflitos bélicos que ocupam manchetes e “escaladas” no horário nobre são herdeiros diretos de uma guerra contínua e de uma paz fugaz, periódica, raramente levada a sério. Na Ucrânia, Gaza e Síria combate-se com armas ultramodernas em guerras com mais de um século de existência. O sangue que jorra é novo, as pendências são velhas, encarquilhadas. A Rússia nasceu na Ucrânia, que na realidade só existiu como Estado soberano num remoto passado.
Antes de 1914, parte da Ucrânia era do Império Austro-Húngaro, a outra, do Império Russo. De um lado um kaiser pretensamente esclarecido, do outro um czar absolutista e implacável. No meio, um vácuo político incapaz de absorver etnias e povos diametralmente opostos. Parte do vácuo foi entregue à recém-criada Polônia.
Os cem anos do início da Grande Guerra começaram a ser lembrados desde 28 de junho deste ano, mesmo dia em que, há cem anos, um jovem terrorista assassinou em Sarajevo o casal de arquiduques, herdeiros do Império Austro-Húngaro. Em 1$\ ^\circ$ de agosto de 1914 começaram as hostilidades, quando a Alemanha invadiu a neutra Bélgica. Cerca de 65 milhões de homens em armas durante mais de quatro anos. Cerca de 20 milhões ficaram nos campos de batalha.
Os tempos são outros, os mapas mudaram, as ideologias reescreveram relatos e biografias. A convergência da nostalgia com o entretenimento dissolveu os horrores. O que falta ao salutar boom sobre a Grande Guerra é ressaltar o papel dos diferentes movimentos pacifistas. Em 1911, o Nobel da Paz foi entregue a Alfred Hermann Fried, fundador do primeiro periódico pacifista, “A Observação da Paz”. O Nobel da Paz de 1933 foi concedido ao jornalista inglês Norman Angell, que ainda antes do primeiro tiro da Grande Guerra empenhava-se em convencer a humanidade da eficácia da paz como um meio racional de resolver contenciosos entre nações. O escritor Romain Rolland, Nobel de Literatura em 1915, continuou escrevendo seus panfletos antiguerreiros numa França delirante e patrioteira, até que foi obrigado a recolher-se na Suíça. O que diferenciava esses pacifistas da maioria dos militantes contemporâneos era a integralidade das suas convicções. Eram contra a beligerância, contra todos os beligerantes, inclusive seus concidadãos.
O pacifismo meia-bomba onde os adversários são demonizados e os correligionários exaltados apenas camufla velhas intolerâncias, pinta de branco rubros rancores. Exclui em vez de incluir e agregar. Nesta era da informação (ou da desinformação, dá no mesmo), o pacifismo tem chance de tornar-se efetivo. Na base do 50%, é inútil.
Adaptado de Alberto Dines, 22 jul.2014. www.observatoriodaimprensa.com.br
Escreva um resumo do texto acima, com 10 linhas no máximo. Em seu texto, você deve:
Apresentar a tese do autor e fatos que ele utiliza para justificá-la;
Escrever com suas próprias palavras, sem copiar trechos do texto;
Mencionar o autor no corpo do resumo.
Leia o trecho de Jr. Bellé (Revista Cultura, 02 jun.2014) e escreva um parágrafo que dê continuidade à ideia explorada pelo autor, mantendo as características do gênero. O parágrafo deve ter no mínimo 5 e no máximo 7 linhas.
Você já se perguntou o que é brasilidade? Inúmeros cientistas sociais, historiadores, escritores e pensadores dedicaram- se a escavar esse termo, desmembrá-lo a fim de mapear e entender o que nos constitui como brasileiros. Nascer em solo nacional é a resposta mais óbvia, mas também a mais rasa. Afinal, todo território é volátil. O Acre nem sempre foi brasileiro, o Uruguai já foi nossa Província Cisplatina, o Mato Grosso do Sul ganhou uns tantos hectares com a vitória da Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai. Além do mais, alguma vez passou por suas ideias o porquê de a América Portuguesa, ou seja, nós, não termos nos dividido, nos recortado em pequenas nações, como aconteceu com a porção espanhola? Há motivações para além do processo civilizatório e da falta de unidade administrativa por parte dos Hermanos.
Para construir a identidade de um povo, ___________________________________________.
Maravilha!
Pode-se parafrasear Winston Churchill e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável que seja, é melhor que sua alternativa. A única alternativa para a velhice é a morte. Já as alternativas para a democracia são várias, uma pior do que a outra. É bom lembrá-las sempre, principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista. [...] Diante disso, em vez de “que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se auto depura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo menos de erro em erro vamos ganhando a prática. Mesmo o que impacienta é aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes. O Tiririca, não sei, mas o Romário não deu um bom deputado? Vocações políticas às vezes aparecem em quem menos se espera. E é melhor o cara poder dizer a bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do que diz. Melhor ele pedir voto porque é torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida numa ordem do dia de quartel. Melhor você ser manipulado por marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda oficial e incontestável de um poder ditatorial. [...]
Certo, às vezes as alternativas para a democracia parecem tentadoras. Ah, bons tempos em que o colégio eleitoral era minimalista: tinha um só eleitor. O general da Presidência escolhia o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo rápido e ascético que não sujava as ruas. A escolha do poder nas monarquias absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus, que também não se interessa pela nossa opinião. Ou podemos nos imaginar na Roma de Cícero, governados por uma casta de nobres, sem nenhuma obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer ironia.
A democracia é melhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política termine parecendo apenas uma pantomima. Não importa, não deixa de ser - comparada com o que já foi - uma maravilha.
Luis Fernando Veríssimo, www.geledes.org.br, 31/08/2014
Ao fazer o elogio à democracia, o autor aponta, também, defeitos do regime. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas:
1) A democracia apresenta grandes incoerências internas.
2) O sistema econômico tem grande poder sobre as decisões.
3) O regime democrático tem, na sua contraparte, muitas alternativas.
4) As articulações entre os partidos são pouco claras, dada sua indefinição.
Comprovam a afirmação de que o autor tanto elogia quanto critica o regime democrático as afirmativas:
Maravilha!
Pode-se parafrasear Winston Churchill e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável que seja, é melhor que sua alternativa. A única alternativa para a velhice é a morte. Já as alternativas para a democracia são várias, uma pior do que a outra. É bom lembrá-las sempre, principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista. [...] Diante disso, em vez de “que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se auto depura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo menos de erro em erro vamos ganhando a prática. Mesmo o que impacienta é aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes. O Tiririca, não sei, mas o Romário não deu um bom deputado? Vocações políticas às vezes aparecem em quem menos se espera. E é melhor o cara poder dizer a bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do que diz. Melhor ele pedir voto porque é torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida numa ordem do dia de quartel. Melhor você ser manipulado por marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda oficial e incontestável de um poder ditatorial. [...]
Certo, às vezes as alternativas para a democracia parecem tentadoras. Ah, bons tempos em que o colégio eleitoral era minimalista: tinha um só eleitor. O general da Presidência escolhia o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo rápido e ascético que não sujava as ruas. A escolha do poder nas monarquias absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus, que também não se interessa pela nossa opinião. Ou podemos nos imaginar na Roma de Cícero, governados por uma casta de nobres, sem nenhuma obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer ironia.
A democracia é melhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política termine parecendo apenas uma pantomima. Não importa, não deixa de ser - comparada com o que já foi - uma maravilha.
Luis Fernando Veríssimo, www.geledes.org.br, 31/08/2014
O autor é sarcástico em algumas afirmações, como em:
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