UERJ 2012 Português - Questões
Abrir Opções Avançadas
QUINO
(Déjenme inventar. Buenos Aires: Ediciones de La Flor, 2003.)
Na tira do cartunista argentino Quino, utitizam-se recursos gráficos que Lembram o cinema.
A associação com a linguagem artística do cinema, que lida com o movimento e com o instrumento da câmera, é garantida pelo procedimento do cartunista demonstrado a seguir:
QUINO
(Déjenme inventar. Buenos Aires: Ediciones de La Flor, 2003.)
A tira traz um efeito de surpresa ao final, produzido pela cena inusitada de uma pessoa sentada no ar, como se isso fosse possível.
Esse efeito de surpresa se intensifica pelo fato de o último quadrinho contrastar com o seguinte aspecto da própria tira:
O chá, os fantasmas, os ventos encanados...
Mário Quintana
Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a "gente bem" dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos (6), mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião (1)) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo...
Também se falava misteriosamente em "moléstias de senhoras" (2) nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma (3).
Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões (5), do qual até hoje me assombra este verso único (4): "Que o menor mal de tudo seja a morte!" Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.
(Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.)
O texto de Mário Quintana se baseia em duas oposições: “gente bem" versus “criadas" e “este mundo" versus “o outro mundo".
"O outro mundo" é representado, no texto, por alguns elementos evocados pelo narrador.
A expressão que melhor identifica tais elementos é:
O chá, os fantasmas, os ventos encanados...
Mário Quintana
Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a "gente bem" dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos (6), mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião (1)) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo...
Também se falava misteriosamente em "moléstias de senhoras" (2) nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma (3).
Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões (5), do qual até hoje me assombra este verso único (4): "Que o menor mal de tudo seja a morte!" Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.
(Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.)
Além da comparação entre papéis sociais, há no texto outra comparação, implícita, que indica uma compreensão do narrador acerca de comportamentos na sociedade.
Essa comparação implícita está em:
O chá, os fantasmas, os ventos encanados...
Mário Quintana
Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a "gente bem" dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos (6), mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião (1)) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo...
Também se falava misteriosamente em "moléstias de senhoras" (2) nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma (3).
Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões (5), do qual até hoje me assombra este verso único (4): "Que o menor mal de tudo seja a morte!" Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.
(Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.)
A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões, (5)
A expressão em destaque torna a frase que ela introduz uma ressalva em relação ao que está enunciado anteriormente.
Essa ressalva evidencia que as leituras do poeta lhe davam a seguinte possibilidade:
Carregando...