UERJ 2008 Português - Questões
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Uma mulher chamada Guitarra
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor.
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit$\ ^{1}$. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal (1): nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância$\ ^{2}$; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade (2); e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
(...) Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore$\ ^{3}$ (3), como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? (4) Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals$\ ^{4}$. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos$\ ^{5}$, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua (5).
(Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.)
Vocabulário:
$\ ^{1}$mot d’esprit – dito espirituoso
$\ ^{2}$jactância – arrogância, orgulho, vaidade
$\ ^{3}$viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical
$\ ^{4}$Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado
$\ ^{5}$tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
O título do texto de Vinícius de Moraes estabelece, indiretamente, uma relação de identidade entre dois elementos. Tal relação se torna possível pela aplicação do seguinte mecanismo:
Uma mulher chamada Guitarra
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor.
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit$\ ^{1}$. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal (1): nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância$\ ^{2}$; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade (2); e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
(...) Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore$\ ^{3}$ (3), como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? (4) Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals$\ ^{4}$. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos$\ ^{5}$, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua (5).
(Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.)
Vocabulário:
$\ ^{1}$mot d’esprit – dito espirituoso
$\ ^{2}$jactância – arrogância, orgulho, vaidade
$\ ^{3}$viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical
$\ ^{4}$Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado
$\ ^{5}$tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
Algumas estratégias argumentativas são empregadas para persuadir o leitor de que a opinião do enunciador é, na verdade, um fato.
A estratégia de persuasão presente nesse texto não inclui o uso de:
Uma mulher chamada Guitarra
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor.
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit$\ ^{1}$. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal (1): nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância$\ ^{2}$; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade (2); e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
(...) Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore$\ ^{3}$ (3), como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? (4) Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals$\ ^{4}$. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos$\ ^{5}$, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua (5).
(Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.)
Vocabulário:
$\ ^{1}$mot d’esprit – dito espirituoso
$\ ^{2}$jactância – arrogância, orgulho, vaidade
$\ ^{3}$viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical
$\ ^{4}$Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado
$\ ^{5}$tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
O violão é não só a música (...) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina (...), o único que representa a mulher ideal: (1)
Para defender o ponto de vista acima apresentado, o enunciador organiza o segundo parágrafo com base em um processo de:
Uma mulher chamada Guitarra
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor.
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit$\ ^{1}$. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal (1): nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância$\ ^{2}$; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade (2); e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
(...) Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore$\ ^{3}$ (3), como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? (4) Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals$\ ^{4}$. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos$\ ^{5}$, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua (5).
(Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.)
Vocabulário:
$\ ^{1}$mot d’esprit – dito espirituoso
$\ ^{2}$jactância – arrogância, orgulho, vaidade
$\ ^{3}$viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical
$\ ^{4}$Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado
$\ ^{5}$tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
A metáfora-base do texto se realiza, em plenitude, no terceiro parágrafo.
O caráter conferido por esse parágrafo ao texto pode ser qualificado como:
Uma mulher chamada Guitarra
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor.
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit$\ ^{1}$. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal (1): nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância$\ ^{2}$; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade (2); e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
(...) Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore$\ ^{3}$ (3), como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? (4) Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals$\ ^{4}$. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos$\ ^{5}$, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua (5).
(Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.)
Vocabulário:
$\ ^{1}$mot d’esprit – dito espirituoso
$\ ^{2}$jactância – arrogância, orgulho, vaidade
$\ ^{3}$viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical
$\ ^{4}$Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado
$\ ^{5}$tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
No texto, fragmentos narrativos associam-se a sequências descritivas, originárias de um processo subjetivo de observação.
A alternativa que apresenta uma dessas sequências descritivas é:
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