UEL 2019 Português - Questões
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Leia a seguir o fragmento retirado da obra "O demônio familiar", de José de Alencar.
CENA XIII - Alfredo, Azevedo
Alfredo – É raro encontrá-lo agora, Sr. Azevedo. Já não aparece nos bailes, nos teatros.
Azevedo – Estou-me habituando à existência monótona da família.
Alfredo – Monótona?
Azevedo – Sim. Um piano que toca; duas ou três moças que falam de modas; alguns velhos que dissertam sobre a carestia dos gêneros alimentícios e a diminuição do peso do pão; eis um verdadeiro tableau de família no Rio de Janeiro. Se fosse pintor faria um primeiro prix au Conservatoire des Arts.
Alfredo – E havia de ser um belo quadro, estou certo; mais belo sem dúvida do que uma cena de salão.
Azevedo – Ora, meu caro, no salão tudo é vida; enquanto que aqui, se não fosse essa menina que realmente é espirituosa, D. Carlotinha, que faríamos, senão dormir e abrir a boca?
Alfredo – É verdade; aqui dorme-se, porém sonha-se com a felicidade; no salão vive-se, mas a vida é uma bem triste realidade. Em vez de um piano há uma rabeca; as moças não falam de modas, mas falam de bailes; os velhos não dissertam sobre a carestia, mas ocupam-se com a política. Que diz deste quadro, Sr. Azevedo, não acha que também vale a pena de ser desenhado por um hábil artista, para a nossa “Academia de Belas-Artes”?
Azevedo – A nossa “Academia de Belas-Artes”? Pois temos isto aqui no Rio?
Alfredo – Ignorava? Azevedo – Uma caricatura, naturalmente... Não há arte em nosso país.
Alfredo – A arte existe, Sr. Azevedo, o que não existe é o amor dela.
Azevedo – Sim, faltam os artistas.
Alfredo – Faltam os homens que os compreendam; e sobram aqueles que só acreditam e estimam o que vem do estrangeiro.
Azevedo (Com desdém) — Já foi a Paris, Sr. Alfredo?
Alfredo – Não, senhor; desejo, e ao mesmo tempo receio ir.
Azevedo – Por que razão?
Alfredo – Porque tenho medo de, na volta, desprezar o meu país, ao invés de amar nele o que há de bom e procurar corrigir o que é mau. [...]
ALENCAR, J. O demônio familiar. 4.ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. p.90-92.
Com base na obra O demônio familiar, de José de Alencar, responda aos itens a seguir.
a) A cena ressalta uma temática comumente explorada por José de Alencar. Indique qual é essa temática e explique como a cena a aborda.
b) De acordo com a temática indicada no item a), aponte a personagem que mais se aproxima das concepções defendidas por Alencar. Justifique sua resposta.
Leia os fragmentos a seguir, do romance O filho eterno, de Cristovão Tezza.
Já viu na enciclopédia que o nome da síndrome se deve a John Langdon Haydon Down (1828-1896), médico inglês. À maneira da melhor ciência do império britânico, descreveu pela primeira vez a síndrome frisando a semelhança da vítima com a expressão facial dos mongóis, lá nos confins da Ásia; daí “mongolóides”. Que tipo de mentalidade define uma síndrome pela semelhança com os traços de uma etnia? O homem britânico como medida de todas as coisas.
[...]
O problema da normalidade. Talvez ele mesmo escreva um pequeno roteiro com o texto certo para as pessoas recitarem no momento da confissão da tragédia. Algo como “Não me diga! Mas imagino que hoje em dia já há muitos recursos, não? Olha, precisando de alguma coisa, conte comigo” – e então ele diria, obrigado, vai tudo bem. Mudariam de assunto e pronto. Bem, em grande número de encontros, não precisaria dizer nada: são bilhões de pessoas que não o conhecem, contra apenas umas dez ou doze que o conhecem. Essas já sabem; não preciso acrescentar nada. Na maior parte dos casos, basta dizer: Sim, a criança vai bem. Felipe, o nome dele. Obrigado. E nada mais foi perguntado e nada mais se respondeu, dando-se por encerrado o assunto e prosseguindo a vida em seus trâmites normais. Ele respira aliviado.
TEZZA, C. O filho eterno. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 42-43.
Os fragmentos transcritos do romance O filho eterno mostram reações do pai, ao saber que seu filho nasceu com Síndrome de Down. Suas impressões sobre a nova situação, neste excerto, revelam perspectivas diferentes para lidar com o problema.
Cite e explique duas perspectivas que são depreendidas desses fragmentos.
Leia o texto a seguir.
Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico, como a braça, a légua etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de segundo ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez correspondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das microcoisas. [...] A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por diante, até a loucura.
Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomatopaico que evoca o tinido das moedas. Originalmente, portanto, “tintim por tintim” indicava um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda. [...]
Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha aí, a inflação já levou dois tins). Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz.[...]
VERISSIMO, L. F. Tintim. In: __. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.63-64. (Adaptado).
Com base na leitura da crônica e, considerando as expressões usadas para caracterizar respectivamente “a menina”, “o gordo” e “o telespectador”, responda aos itens a seguir.
a) Qual dessas expressões se aproxima do que o cronista encontrou no dicionário para “tintim por tintim”? Justifique sua resposta.
b) Compare o emprego da palavra “por”, nessas expressões, com o seu uso em “A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes” e aponte sua classe gramatical.
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